Open Call
Carla Sousa, nascida em meados do Outono de 1999, em Aveiro, e criada numa vila banhada pelos campos e pela Ria, a Murtosa. Criadora e revisora de conteúdos textuais por dedicação e empregada de mesa para pagar contas. Mãe, sem direito a folgas, e estudante, quando as circunstâncias o permitem. Desde os primeiros sopros da adolescência, encontra na escrita um porto seguro onde depositar as suas dores, acentuando-se, ao longo dos anos, a urgência pela liberdade que as palavras lhe dão. Explorou e despiu-se na poesia e é a ela que se entrega mais livremente, sem sentir vontade de se inserir em moldes, tipos ou definições.
Sinto-me Ria
Ao longe, avisto a Ria. Vejo o sangue que jorrou pelos meus braços, nas noites em que a maré era a minha única companhia. Recordo a inocência perdida, entre dias corridos e muitos amores desencontrados. Vejo os olhos dos desconhecidos, nos caminhos emparelhados, denotam a culpa e a frieza do lugar da incerteza onde vivi. Mas sempre que buscava a cura, corria até àquela praia junto à Ria. Aí, onde senti tudo o que vi, como o fantasma que, como sombra, me perseguia ou como os corpos celestes em cadência, na noite em que o amor se aproximou de mim. Com um leve toque nos pés, consagrou-me a água como sua semelhante. Ao longe, avisto a Ria e ouço-a chamar-me à margem, dela e da minha imagem, para limpar as feridas ainda abertas e devolver o consolo da garrafa de vinho que já terminei. E se não me consertas, Ria minha, leva-me, então, contigo, que não suporto mais apenas olhar para ti, distante e imperturbada, como eu anseio ser, casa e calor, como eu preciso sentir. Ao longe, vejo-me mergulhar na água fria. Sinto-me Ria.
Lindo! É uma sorte poder partilhar os nossos desassossego . Vai,caminha sem medo!
Agora é a vez dos jovens.
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