Open Call
Cada passo é dado em concordância com batimentos paradoxais e movimentos interiores opostos. Neste corpo, abrir os olhos é o mesmo que cerrá-los; ao toque equivale a distância, e o pensamento corresponde à música que o mundo emite. Neste ritmo inquieto, a poesia escreve-se em pautas difusas e o verso, trazido à vida, ergue-se sem nunca regressar ao ponto de partida. Em mim permanece, aguardando a todo o instante a libertação através do olhar alheio.
Plágio
A minha convalescença Não é momentânea, O meu pensamento prefere Tirar os pés do lodo E pular de tédio em tédio, Mantendo a vida imóvel. Sou uma pessoa diferente, Não morei em campos Tampouco indústrias Que me tornassem múltiplo. Nasci assim, No rés-do-chão de vontades Embaraçosas. Não sou de frequentar cafés Mas há qualquer coisa de opiáceo Na minha posição de descanso, Especialmente quando levanto Os olhos. Quando os fecho Apareço-me em arrepio Numa abismal falta De originalidade, Ainda que a singularidade Da imitação Se transponha lindamente Em atos fora do papel (e dentro dele) [e dentro de mim] O meu desassossego Surge em quatro pontos cardeais E cordiais na sua abstinência Magnética, Enquanto a vida fuma Generosamente Os meus pólos invertidos E não sobram pontas soltas Que queimem os pinhais secos Da minha redondeza espiritual. Cresci para dentro Num mecanismo desastroso Sem remorsos e meias tentativas De noção, Que aceito. Há realmente metafísica bastante Em não pensar em merda nenhuma. Os rebanhos que guardo Não precisam de pastor.
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